Após mais de duas décadas atuando como diretor e CEO de empresas do segmento de Transporte, Saúde e Previdência, Cláudio da Rocha Miranda atualmente utiliza sua experiência em liderança empresarial no aconselhamento estratégico para executivos. Claudio é coordenador de dois grupos de empresários no Rio de Janeiro, atividade que desenvolve com a chancela da Vistage, organização internacional especializada em aconselhamento estratégico, empresarial e profissional, a presidentes, sócios e sucessores. Atua também como coach para o top management empresarial e é palestrante especializado em “técnicas de negociação empresarial”, disciplina que leciona nos MBA’s de Gestão da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Claudio da Rocha Miranda

Qual é o objetivo do Blog?

O blog pretende criar uma linha de comunicação mais dinâmica com o alto executivo. Esses homens e mulheres sofrem com o mesmo problema desde sempre: a solidão no poder. E é este um dos focos do blog. Outro assunto, não menos importante, que trataremos aqui será o processo de “reinvenção” destes profissionais após sair das corporações. Ocorre que, quase sempre, a angústia com a chegada da hora do afastamento, do “ir para casa” é muito grande. A nossa expectativa de vida aumenta e diversas grandes empresas aposentam compulsoriamente seus executivos aos 60-65 anos. Sobram energia e experiência. Este profissional, acostumado ao mando, ao poder, a ter o sobrenome da empresa, tem muita dificuldade de se “reinventar”. Curioso é que isso não depende do tamanho do seu patrimônio, mas das alternativas que criou ao longo dos anos e/ou das que está disposto a criar neste seu novo tempo. Falar com essa gente, sobre “solidão no poder” e sobre “a fase da reinvenção” são os dois principais objetivos do “Grilo Falante”.

Por que “Grilo Falante”?

O Grilo Falante é uma analogia ao personagem que foi criado para aconselhar Pinochio, o personagem principal de uma trama dos estúdios Disney. O Grilo acompanhava Pinochio em suas aventuras e através de sua visão diferenciada e experiências dava ao menino de madeira indicações, sugestões e conselhos sobre as decisões que Pinochio iria tomar. É uma metáfora perfeita para o trabalho de aconselhamento executivo, porque apesar de ser um personagem com experiência de vida o Grilo Falante permite que Pinochio tome as próprias decisões mantendo a postura de companheiro sem se sobrepor com a imagem de líder.

Em um mundo cada vez mais convergente e digital, qual é a importância de um blog?

O blog é uma ferramenta muito eficiente para a comunicação com o alto executivo. Isto porque ele arquiva todo o conteúdo em um único “local”, disponível para acesso de qualquer lugar do mundo, em qualquer horário, algo fundamental quando se trata de dirigentes, apressados, atrasados e com pouco tempo disponível. Além disso, com as novas mídias, a comunicação precisa ser instantânea e deve possuir meios de reprodução e repercussão para aqueles que se interessarem pelo assunto. Outro ponto é o surgimento de novos gestores. As novas gerações e os líderes do futuro – um futuro breve em muitos casos – estão completamente habituadas em lidar com este tipo de plataforma e nós, que fazemos aconselhamento de executivos, não podemos deixar de responder às necessidades desta nova geração de CEO’s. Para aqueles que ainda resistem às ferramentas digitais, mostrar que elas também falam com eles, é fundamental. Afinal, faz parte do processo de reinvenção, quebrar paradigmas, acreditar que no mundo de hoje, a mudança faz parte do jogo dos negócios. Não precisamos estar absolutamente na dianteira tecnológica. Mas com certeza “perdemos o bonde” se insistirmos em manter tudo como era antes.

Qual é a importância do aconselhamento para estes CEOs?

Novamente tem duas vertentes, esta resposta. De um lado, a empresa e o seu líder vivem diante de uma complexidade, causada pela multiplicidade de áreas e expertises. Neste ambiente, não basta mais o número um, buscar treinamento visando sua melhor capacitação. É preciso muito mais que isso. É necessário desenvolvimento ao invés de treinamento. Treinamento é fácil de se encontrar. Escolas de negócios abundam por todo lado ainda que as de qualidade, nem tanto. Mais difícil é achar como e quem o desenvolva. Treinamento versus desenvolvimento, este é o “trade off” dos nossos dias. Líderes precisam mais dos processos capazes de promoverem seu desenvolvimento do que treinamento. Desenvolvimento é um processo que se obtém através da troca de experiências, da troca de conhecimento, da reflexão orientada. Onde achá-las? É cada vez maior o número de líderes antenados que buscam o seu desenvolvimento através da conjugação de atividades junto a coaches experientes e/ou de grupos compostos por seus iguais onde seja criado um ambiente permissivo à troca de melhores práticas e de estratégias.

Você mencionou que a importância do aconselhamento para CEOs têm duas vertentes. Qual é a outra?

A outra diz respeito à proximidade da chegada de uma nova fase profissional. Aquilo que chamei no início da entrevista de “a fase da reinvenção” de um novo ciclo de profissional. A maioria das empresas tem uma política que desliga compulsoriamente o executivo ao completar 60 ou, no mais tardar, 65 anos. A grande questão é: Será que esses profissionais querem mesmo pendurar as chuteiras? Os problemas não param aí. Pelo lado das organizações, será que existe na companhia alguém preparado para assumir o posto deste executivo? Ou ainda, será que a experiência deste profissional não pode continuar sendo útil mesmo após a aposentadoria? Isto sem contar questões que surgem em empresas familiares, por exemplo, que sofrem grandes mudanças durante a transição de gerações no posto de liderança, e onde o conflito principal é como manter a identidade da corporação adotando métodos completamente novos de gestão.